Bipolar

A minha mãe é portadora de uma doença mental: é doente bipolar.
Não sei se os que visitam e os que lêem este blogue conhecem a doença ou não. Julgo que muitas pessoas a desconhecem, mas eu passo a explicar.

Um bipolar é um doente que alterna crises de mania com crises de depressão, com maior ou menor intensidade, com mais ou menos duração, estando estes ciclos dependentes por exemplo das estações do ano, de um qualquer acontecimento, de uma propensão maior para ser mentalmente instável digamos assim. As crises de mania identificam-se por uma maior irritabilidade, mil pensamentos por hora, querer fazer mil coisas ao mesmo tempo, gastos exagerados em coisas inúteis, uma atitude exagerada perante a vida e o que a rodeia, até algum desprezo e sentimento de superioridade perante os outros. A alguns destes sintomas juntam-se os episódios psicóticos que já presenciei. Uma crise depressiva é precisamente uma depressão que em casos mais graves pode levar ao suicídio.


No caso da minha mãe a bipolaridade dela terá sido diagnosticada por volta do ano 2002, mas julgo que antes já ela o era, mas falo de uma época em que uma depressão era um esgotamento nervoso e sucessivamente. Basicamente vivo com uma doente bipolar desde que me lembro de ser gente.

A doença bipolar não é curável, contudo pode ser controlada. Para isso existem os chamados estabilizadores de humor, que ajudam a que o doente estabilize. Junto com esses medicamentos é dado um anti-depressivo caso a crise seja depressiva ou um ansiolítico se a crise é de mania. No caso da minha mãe ela toma todos um ansiolítico, duas qualidades de anti-depressivos, um medicamento para evitar episódios psicóticos, entre outros.
A doença bipolar para além de ser uma doença mental é também uma doença degenerativa. Isto significa que esta doença faz com que o nosso cérebro tenha um envelhecimento precoce das células. No caso da minha mãe, que tem 53 anos ela já se encontra num estado de demência ou de pré-demência, estando actualmente como utente num Centro de Dia, onde julga que está como voluntária.
Esta demência precoce deve-se em muito à má medicação que ela tomou. Má medicação na medida em que a minha mãe muitas vezes se auto-medicou fazendo misturas de medicamentos que foram um autêntico cocktail molotov.
Outro factor importante que muitas vezes é desacreditado é que estes doentes (bipolares e não só), tendem muitas vezes a aproveitarem-se da sua doença para "terem o mundo a seus pés" .
No caso da minha mãe, ela usou bastantes vezes a doença como um factor de chantagem para com os que lhes eram mais próximos. Um exemplo é o "eu sou doente. Ou me dão o que eu quero ou mato-me". Neste aproveitar da doença a minha mãe ajudou em muito à destruição do casamento, bem como fez com que muitas pessoas a vissem como uma coitadinha e como mal tratada pela família e por mim em especial.

Um site que explica esta doença é o da Associação de Doentes Depressivos e Bipolares:

Um filme que elucida sobre a doença é "Mr Jones" com Richard Gere como protagonista.
Para os que não conhecem eu deixo aqui a música principal do filme.

Comentários

  1. Olá Inês. Foi com alegria que, apesar do contexto, encontrei a palavra bipolar no teu comentário no facebook na página da Grande Reportagem SIC. Assisti avidamente ao programa à espera que falassem da doença bipolar. Não falaram. Sou bipolar. No fim-de-semana passado decidi criar o meu blog para, tal como tu, dar-me a liberdade de escrever o que me apetecer e entender. http://hemisferiopolar.blogspot.com
    Tal como podes ler o blog, muito para além da doença, sou mãe, tenho 33 anos e um filho de 10. Descobri que era doente em 2006, mas só a tomar lítio em 2008, depois de ter mudado, pela enésima vez, de médico. Acho que temos muito para conversar, se assim o entenderes.
    Mas ao ler as tuas palavras sobre a tua mãe, imediatamente me veio à cabeça qual o papel do meu filho num futuro que se aproxima a passos largos. Devo dizer-te que fui mãe solteira, já me casei e divorciei e tenho um namorado que me tem acompanhado desde o momento em que tive de assumir a doença. Foi muito bom encontrar-te por aqui. Gostava de saber mais sobre a evolução da doença no caso da tua mãe e como tens lidado com tudo isto. Obrigada

    ResponderEliminar

Enviar um comentário