Defeitos
"O amor é, por definição, um prémio sem mérito. Se uma mulher me diz: eu amo-te porque tu és inteligente, porque és uma pessoa decente, porque me dás presentes, porque não andas atrás de outras mulheres, porque sabes cozinhar, então eu fico desapontado. É muito mehor ouvir: eu sou louca por ti embora nem sejas inteligente nem uma pessoa decente, embora sejas um mentiroso, um egoísta e um canalha."
Milan Kundera, in "A Lentidão"
Não deve haver coisa mais linda do que o "ohhhh...apaixonei-me pelos seus belos olhos e pelo seu sorriso radioso e pela bela disposição que tem todos os dias pela manhã."
Mas fazendo algum jus aos Homens da Luta ponho a pergunta: "então e os defeitos pá"????
Acredito que é muito bonito vermos as qualidades da outra metade da laranja, da tampa do tacho e outros provérbios que falam em metades, mas os defeitos... põem-se de lado como se fossem uma coisa feia, uma invenção demoníaca feita para arruinar o lado bonito???
Nãooooo....por muito bonitas que as qualidades sejam, os nossos defeitos também cá andam, o nosso "lado lunar", vem sempre ao de cima, por mais que o tentemos esconder.
Para mim, enunciar as qualidades do ser amado, como se os defeitos não existissem, é como ler as revistas femininas e seguir à regra todas as instruções que lá surgem sobre as regras de etiqueta do primeiro encontro, não falar disto, vestir assim, comportar-se assado e por aí adiante. De que serve cumprir estas " regras de etiqueta", se a pessoa não mostra o que realmente é? Serve para o peixe morder o isco? Acham mesmo que isso é funcional? Na minha humilde opinião esses iscos não funcionam bem, nem para um lado nem para o outro. Essa coisas de mostrar só qualidades não é funcional. Ao fim e ao cabo, passados uns tempos o que vem ao de cima são os defeitos. E os defeitos esses, tal como as qualidades não se escondem. Não serve de nada escondermos o nosso "lado lunar", porque se nós temos que viver com ele, o (a) outro (a) desgraçado (a) também vai ter que viver com os defeitos.
E convenhamos que essa história de ter gostado do outro só pelas inúmeras qualidades está demodé.
Eu gosto muito que me digam que gostam de mim pela minha paciência, mas prefiro mil vezes que me digam algo como gosto de ti porque és uma respondona do caraças. Se me dizem isso é porque captaram bem a coisa. Se só ficam pelas coisas bonitas....é porque não conseguem ver além do que está à frente dos olhos.
Quando gostamos verdadeiramente é num todo! ;)
ResponderEliminarKiss
Inês, adorei o teu post.
ResponderEliminarAcho que este é o teu post mais lúcido dos últimos tempos. (ou pelo menos dos que li com mais atenção)
E como eu estou longe e não tenho de viver contigo (lol) atrevo-me a dizer o que tu queres ouvir: eu gosto de ti porque tu és uma repontona do caraças...
Vá, e agora dá cá um beijinho que tenho outro para ti. :)
Concordo absolutamente Inês.... acima de tudo assumir as coisas menos boas, saber enfrentá-las ou quando necessário contorná-las.
ResponderEliminarMas não fechar os olhos ao que está lá tão presente.
Não deixar de perceber o todo da nossa cara metade.
Adorei o post!
O segredo, quando a mim, é gostar das qualidades e aprender a viver, a aceitar e a compreender os defeitos. Desde que não me tentem mudar, está tudo bem, se o fizerem, fui...
ResponderEliminarBeijo Inêzita.
Essência: nem mais.
ResponderEliminarOrquídea: gosto que digas que são posts lúcidos.
ResponderEliminarSe eu fosse só respondona era uma maravilha! :)
Petra: tem que se perceber o todo, e não se ficar só pela metade.
ResponderEliminarVera: viver com ambos, mas não obrigar ninguém a mudar.
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